quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Pra sempre serei seu




Por um beco escuro, escorregadio e úmido, estaria chovendo? Era difícil saber, com a dor de cabeça impertinente eu não conseguia identificar aquele som agudo, forte e estridente... perai, a chuva teria o som de Always, do Bon Jovi? Demorou mais de um minuto pra mim me dar conta que o beco escuro era um cenário do me subconsciente e que na verdade estava sim chovendo, mas era meu celular, na outra extremidade do quarto, o mais longe possível da minha cama e de mim, que havia me despertado.

Reunindo coragem e força de vontade ergui-me e o apanhei o mais rápido que pude, apenas uma pessoa na minha lista de contatos me ligaria ás duas da manha sem nenhum pingo de remorso, por coincidência ou não, também era ela a única que tinha direito aquela musica como identificação.

- Acordei você? - Sofia perguntou, sua voz estava diferente, mais suave e um pouco temerosa, e rouca também. Ela estivera chorando.
- O que você acha que ando fazendo as duas da manha em plena segunda-feira? - dei ás costas á bagunça do meu apartamento e fingi que aquelas garrafas vazias não estavam lá, virei de frente á janela aberta e despida das cortinas azuis escuras, la fora o transito zunia, o ceu ainda estava negro e a chuva caia sem trégua. Se Sofia estivesse aqui ela teria me puxado da janela, teríamos ido pra minha cozinha, ela teria cozinhado algo, me feito rir e depois dito mais um dos seus discursos que no momento eu não ouviria ou prestaria atenção, porque Sofia era bonita demais pra mim ficar prestando atenção apenas no que ela diz, não quando seu cabelo longo e castanho lhe caia nas costas, ou quando seus rosto redondo e cheio de sardas se contorcesse em expressões agradáveis, e agora, minha adorável Sofia estava na outra linha, quarteirões distantes e uma parede invisível chamada orgulho entre nos.

Ela ofegou, envergonhada com minha resposta mal humorada.

- Por que ligou?
- Senti sua falta.
- Don juan não lhe satisfaz?
- Pedro não está aqui ele... ele saiu.
- Pensei que ele fosse perfeito - e ele é seu idiota. Ele quase nunca á deixa sozinha como você fazia, ele não se entope de álcool apenas pra não assumir que ficou chateado com alguma discussão, ele não faz escândalos e nem agride os amigos dela por causa de ciúmes e ele não é você.

- Não faz isso Caio, por favor, ainda podemos ser amigos.
- Dispenso, mas valeu pela proposta - havia uma bile na minha garganta agora, Sofia era minha melhor amiga, Sofia era minha amante, aquela baixinha manhosa era minha vida. O complemento do buraco no meu peito, era tudo o que eu nunca havia sonhado antes, e por isso eu nunca soube exatamente o que fazer com isso, o que fazer com tanto amor, com tanto ciúmes, com tanto tesão, tudo parecia tão surreal que na época quase não me importei se fosse ficar sem isso. Ela voltaria, eu tinha certeza, e dai se tínhamos brigado? Se eu tinha esmurrado um idiota logo depois de prometer que nunca mais agrediria ninguém?  Se eu á tinha traído de novo? Sofia voltaria, como das outras vezes, mas eu devia ter notado que nas outras ela tinha saído chorando, naquela noite ela não chorou.

Ela também não voltou.

- Como você esta?

Mal, muito mal, minha cabeça doi e eu acho que vou chorar.

- Bem, é claro.
- Ah... eu não estou.
- Mas você vai ficar, você sempre fica.
- Eu acho que sim... Pedro é um cara legal ele... ele me entende.

Ri, eu ia chorar, eu tinha certeza.

- Fico feliz por você.
- Caio... eu vou ficar bem, mas no momento eu não sou nada.

Então venha ser minha, por favor, foi o que eu quis dizer antes que, após o silencio constrangedor seguindo da sua declaração, Sofia ter desligado. Venha ser minha porque... pra sempre eu serei seu.

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