quarta-feira, 12 de março de 2014

Desencontros

 

Eu estava sentada naquela parte solitária do ponto, ao lado do vidro, com fones no ouvido e a cabeça encostada, esperava meu ônibus pra faculdade quando senti aquele perfume, foi estranho, tudo o que tinha dado trabalho pra esquecer voltou, meus olhos abriram e a primeira coisa que vi foi você. Não bem você, suas costas, você vestia aquela camisa rosa, lembro de ter dito que ficava bem em você, combinava com sua cor, você estava esperando o ônibus pro trabalho, não é? Não fiquei surpresa por ainda está trabalhando naquele lugar. Faz quantos meses, seis que tinha dito que havia se cansado dele? Na verdade, de tudo, dos amigos, do trabalho, de mim. Mas de todos, o unico que afastou mesmo foi eu.

Estava nos dois e mais três pessoas naquela parada, não sei se você me viu, ali, agasalhada e trêmula, prefiro pensar que não, você não falou comigo. De novo. Pela milésima vez. Era fácil me ignorar. Eu já sei, entendi. Mas se viu, ou me notou, deve ter ficado surpreso, não é? Seis horas da manhã e eu ali. Como você dizia? Ah sim, eu era acomodada, acomodada demais nos meus pais pra me preocupar com faculdade ou trabalho, ou qualquer coisa que me exigisse esforço. Você também dizia que, seria alguém, alguém grande. Bem, você continua o mesmo, pelo que pude perceber. Mesmo perfume barato, mesma camisa surrada, mesmo ônibus. Você me dizia que eu era daquelas que "sonhava uma galaxia, mas não realizava um planeta". Me faltava sede pelo mundo.

Nos últimos seis meses me faltou um monte de coisas, me faltou você, seu cheiro, seu abraço, seu cafuné, suas ligações, me sobrou carência e tempo, pra decidir, pra estudar, pra passar no vestibular, e acabar aqui, nessa parada, encarando suas costas enquanto meu ônibus não chegava. Você não sabe disso, é claro, mas passei pra Jornalismo, faculdade federal, e também aquele meu livro, que você sempre quis ler, será publicado mês que vem

Eu queria te contar todas as coisas que me aconteceram, mas meu ônibus estava passando, e dessa vez não me sobrou tempo, quando passei por você senti seus olhos nas minhas costas, não sei se me reconheceu, eu estava diferente, criei coragem e descolori meu cabelo, mas não deu certo e tive que pintá-lo de novo, mas dessa vez de vermelho. Estou ruiva. Também emagreci, bastante, desde o dia que terminamos, passei á me importar, eu acho.

Passei á me amar, e cuidar de realizar logo meus planetas. Espero que você também possa, que se machuque como eu me machuquei, pra assim criar ânimo, espero que se erga, e que saia desse emprego que odeia tanto. Espero poder te encontrar por ai, nesses nossos desencontros, qualquer dia, em uma esquina, e sentar, pra ter aquela velha conversa que nos espera. Espero tantas coisas de você, e pra você. Mas só você. Por que de mim, já não tenho o que esperar. Eu tinha um sonho, e bem, hoje vivo nele

2 comentários:

  1. Você publicando isso
    me fez lembrar de um passado meu
    que vire e mexe insiste em aparecer seja num ponto de ônibus ou até mesmo em uma fila de banco.
    Adorei as palavras <3

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