domingo, 2 de março de 2014

Não chore




 


O pedido ecoou provocando egos tristes no hall silencioso e abandonado, eu ainda podia ouvir o som opaco de seus sapatos batendo contra o piso enceirado do corredor, eu ainda conseguia visualizar com clareza seu rosto manchado pela maquiagem borrada, a saia do vestido erguido até seu joelho e o som baixo e embargado que escapou de sua garganta.

Mas eu não estava chorando.

Talvez fosse a obediência muda ao seu pedido escassez, ou a falta de esforço pra por pra fora toda a turbulência do meu estômago. Não. Era a raiva. Cega e muda. Minha vida havia escapado pela porta comprida e larga, suas bordas douradas que semelharam-se á ouro. Amarelo. A mesma cor das suas mexas.

Era alguma espécie de sinal?

Não chore, ela disse, não chore, por que eu não choraria? Que direitos tinha ela em me impedir de fazer a única coisa fácil, em todo esse redemoinho de loucuras? Que dever tinha eu em obedecer a única pessoa que destruiu todas as minhas defesas?

Eu não chorei.

Não por obediência ou dever, eu não chorei por necessidade, preservação, lutar pelo que vale é pena? Era essa a minha luta. Não chorar.

Com um suspiro de rendição evacuei lentamente, de volta pra estrada solitária.

8 comentários:

  1. Esse texto merece um oscar, como os outros que você faz, parabéns Kamila

    ResponderExcluir
  2. Adoro ler seus textos ^^

    http://amolivrosdeverdade.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Muito bom. As vezes é muito dificil não chorar... Nós não sabemos a força que temos até ter que segurar um choro, não é? Belo texto!

    Beijos
    Lari Alves,
    http://justlanna.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Gente, que lindo ♥

    http://tudodiferentecomsamaralima.blogspot.com.br/
    Instagram - @samaralima_03

    Beijos ♥

    ResponderExcluir